Partilhei as minhas preocupações com as parteiras, que me asseguraram que cada gravidez é única e que nada indicava que iria passar pelo mesmo. A minha preocupação era tanta que cheguei a pedir que me fizessem uma cesariana às 40 semanas, o que desde logo me foi recusado, alertando-me para os perigos de uma cesariana, que não é mais do que uma cirurgia e como tal deve ser evitada ao máximo.
Segui o conselho das parteiras.
Mas cheguei as 40 semanas e nada de sinal de parto. Tenho uma amiga cujo parto estava previsto para a mesma data que o meu, 6 de Dezembro, que teve a menina às 38 semanas.
Eu comecei a ficar triste. Sentia que alguma coisa devia estar errada comigo. Mas porquê? Porque é que o meu organismo não começa o processo do parto naturalmente, por si mesmo?
Eu Funciono
No dia 12 de Dezembro, por volta das 10h da noite comecei a sentir uma moinha na zona dos rins. Senti também umas gotinhas de liquido a sair e fiquei com a sensação de que era liquido amniótico. Pensei para comigo se seria o início do trabalho de parto. Mas nao me iludi muito, receava a desilusão. Fui-me deitar e não disse nada nem ao meu marido, nem a minha mãe - que tinha vindo no dia 4 de Dezembro para ter a certeza que estava connosco dia 6, para ficar com a Bea e também para conhecer a nova neta e estar com ela uns dias.
Eram 3 da manhã, dia 13 de Dezembro acordei. Tinha a mesma moínha nos rins e uma ligeira dor na zona dos ovários, o mesmo sítio onde dói quando está para se iniciar a menstruação.
Não tinha a certeza se seriam contracções, pois não se tinham desencadeado naturalmente na primeira gravidez. Fiquei atenta e as "contracções" estavam com uma distância de 30 minutos.
Estive acordada cerca de duas horas e o intervalo entre as ligeiras contracções manteve-se.
Acordei já eram 5h da manhã. As contracções mantinham-se espaçadas. Decidi dizer ao meu marido e mãe, mas
não disse nada a Bea, sabia que ela andava ansiosa porque a mana nascesse e não queria que fosse para a escola a pensar nisso, ou pior, que recusasse ir para a escola, porque tinha dito que queria ir para o hospital comigo.
O meu marido foi levar a Bea a escola e eu fiquei em casa; quando voltou para casa perguntou-me se ainda tinha tempo para tomar um duche e eu disse que até podia tomar um banho, que não estava com nenhuma dor forte, eram apenas moínhas e contracções espaçadas.
Liguei à minha irmã para lhe contar a grande novidade, que me parecia que tinha iniciado o processo do parto por mim mesma, mas quando estava a falar com ela embargou-se-me a voz com a emoção e quase que desatei a chorar - consegui manter a postura, mais para não a preocupar.
Enquanto o meu marido estava no banho bem descansado eu comecei a ficar mais incomodada. A minha mãe percebeu logo e apressou-o para que saísse do banho que era preciso ir para o hospital bem depressa. Eu como que ainda a duvidar de que realmente tivesse em trabalho de parto, liguei para o hospital, contei como me sentia e disseram-me para passar la, só para verem como estava.
O Parto
Estava um bocadinho stressada, confesso. Nervosa. Disse que queria ser eu a conduzir para o hospital e assim foi (que eu quando ponho uma coisa na cabeça...). A meio do caminho as contracções começaram a ser mais fortes e mais espaçadas. Eu não querendo dar parte fraca não informei os meus passageiros (marido e mãe), mas ainda pensei que ia ter ali a menina, ha!
Cheguei a St.Peter's Hospital, em Chertsey e fui a andar devagarinho até à recepção.
Mandaram-me ao bloco de partos para me verificarem o meu estado. Cheguei ao primeiro andar e não estava ninguem disponível para me observar, mandaram-me ao rés-do-chão novamente. Fui observada. Tinha 4 cm dilatação.
Disseram-me para voltar para casa, ou dar umas voltas no parque de estacionamento. que ainda podia demorar. Quando coloquei os pés no chão senti que não estava em condições de ir a lado nenhum. Quase nem conseguia sair daquela sala. Disseram-me então para ir para o bloco de partos. Cheguei lá com muita dificuldade. Pediram-me que me sentasse e aguardasse, estavam muito ocupadas e não havia camas disponíveis. Eu respondi que não me podia sentar, estava cheia de dores e que se não havia cama para mim que me ia deitar ali no chão, haha. A sra da recepção olhou aflita para mim, foi falar com as parteiras e quando voltou disse-me " arranjamos uma cama para si".
Foi com dificuldade que dei os passos até à cama que era para mim. Não era só uma cama, mas um quarto, só para mim, com sofás e todo o equipamento necessário.
Comigo no quarto estava a minha mãe e o meu marido.
Deitei-me meia zonza, com dores, vestida, não tive ideia de vestir a camisa que tinha trazido comigo e nenhum dos meus acompanhantes teve cabeça para se lembrar desse pormenor - nem a parteira que estava a tomar conta de mim se lembrou disso. Eram 10h da manhã quando entrei realmente em trabalho de parto, as 11h30 da manhã estava deitada na cama onde iria nascer a Alice.
Estive sempre acompanhada pelo meu marido e pela minha mãe. A parteira esteve presente a maior parte do tempo, nao me colocou nenhum CTG. Quando eu tinha a contracção oscultava a Alice e verificava se estava tudo bem. Ao contrário do parto da Bea, aqui tinha total liberdade de movimentos e podia estar na posição que fosse mais confortável para mim - embora eu quando tanta dor não pensasse em me levantar.
Ao fim de 3 horas de dores comecei a rogar pela epidural. A parteira foi chamar o anestesista. Colocou-me o catéter na mão direita. O Anestesista chegou e começou a dizer-me acerca dos riscos que uma epidural pode ter.
Eis que senti a minha filha ser expulsa do meu corpo. Uma força indescritível, sobre a qual eu não tive qualquer controlo.
Gritei que a minha filha estava a nascer. O Anestesista parou o discurso e olhou para a Parteira, um bocadinho baralhado. A parteira espreitou e não teve tempo de fazer mais nada, do que amparar aquela bebé, que estava determinada a nascer naquele momento. Foram três expulsões espontâneas, em três segundos, eu nao tive qualquer controlo neste acontecimento, e tinhamos Alice no Mundo das Maravilhas!
A espera
O trabalho de parto durou três horas. A Alice nasceu a 13.12.11 à 1.11pm. Tive dores intensas (durante o trabalho de parto mordia a minha mão com a ideia de desviar a dor e a minha mãe oferceu-me a mão dela para que mordesse antes ali, haha, que amorosa - eu nao aceitei claro), mas nada que se comparasse às dores que tive com a indução.
Não me cortaram, mas rasguei, tal foi a intensidade com que ela nasceu. Fui cosida com anstesia.
Deram-me uma injeção para ajudar a expulsar a placenta, mas fiquei com a ideia de que do parto da Bea, sem injeção a placenta saiu mais facilmente.
A menina nasceu, colocaram-ma logo no colo ainda ligada pelo cordão umbilical, tal como fizeram com a Bea. O pai cortou o cordão. Levaram-na para a limpar e colocaram as pulseirinhas de identificação nos pézinhos. Voltaram a colocá-la no meu colo, nuinha.
A parteira entrava e saía do quarto.
Entrei em choque, uns minutos depois do parto. O meu corpo tremia sem controlo. Aconteceu-me o mesmo com a Bea. Passou depressa e sem dramas.
Entretanto o meu marido foi buscar a Bea à escola. Eu pedi à parteira para me ajudar a limpar e mudar para a minha camisa antes da minha filha mais velha chegar. Tinha tido a minha filha com o vestido com que tinha chegado. A parteira saía e demorava-se meias horas. Depois vim a saber que estavam com falta de pessoal e que a minha parteira estava a tratar de duas mulheres ao mesmo tempo.
Chegou a minha filha mais velha e eu ainda cheia dos liquidos e sangue na cama. Ela viu tudo com naturalidade e ficou maravilhada com a irmã.
Quando o meu marido voltou com a Bea e a minha mãe, cerca de duas horas após o parto, eu estava prontinha para tomar o duche. Fui sózinha. Não queria ninguém comigo, mas confesso que estava meia zonza. Depois do duche, vesti a minha roupa de rua e fui com o meu marido apanhar ar fresco e buscar algo para comer, porque não tinha almoçado. Soube mesmo bem sair a rua depois de todo aquele alvoroço. Voltei ao quarto e nem sinal da parteira. Já eram cerca de 4h da tarde. Por volta das 7h da tarde o meu marido, filha e mãe foram para casa e eu fiquei no quarto do bloco de partos, tinha de esperar que me dessem ordem para descer para a enfermaria.
A minha parteira acabou o turno e disse-me que em breve me iriam buscar para a enfermaria. Eram 8h da noite. Eu sentia-me esgotada. Queria ir descansar. Estava ali naquele compasso de espera. Não chegava a adormecer porque estava sempre a pensar que chegaria alguém para nos levar para baixo.
Eram cerca da 9h da noite quando uma auxiliar chegou com uma cadeira de rodas, para me levar para a enfermaria. Disse-me que a cama estava livre há algumas horas, mas não tinham ninguém para me ir buscar. Eu disse que não queria ir na cadeira, que queria ir a andar. A auxiliar ficou boqueaberta e quando chegámos a minha cama disse-me que se tinha esquecido fazer uma tour pela enfermaria (dizer onde eram os pequenos almoços, etc) porque estava surpreendida coma minha mobilidade. Fomos alegremente a conversar e descobri que a auxiliar é tia de um menino que anda na escola com a Bea já há alguns anos.
No dia seguinte, por volta das 11h da manha fizeram o check-up final e tivemos alta para ir para casa. Era Quarta-feira e fui buscar a minha filha mais velha à escola. Sentia-me (e sinto) muito feliz. Eu funciono. O processo começou naturalmente e correu tudo bem.