Em 2011 fiquei grávida pela segunda vez na minha vida.
Embora nao esteja a viver no meu país de origem, Portugal, fiquei confiante pois sempre ouvi dizer bem do sistema de saúde em Inglaterra e para dizer a verdade não tenho a menor razão de queixa.
Devo dizer que esta experiência foi muito diferente da primeira, não só porque estou a viver noutro país, mas também porque tenho uma idade diferente, entre outras coisas.
Agradável Surpresa
Há quem me tenha dito que a culpada desta segunda gravidez foi a minha mana, pois foi mãe em Dezembro de 2010 e eu visitei-a em Fevereiro para conhecer o meu novo sobrinho - De modos que este evento pode ter acordado o meu instinto maternal, ou como se diz por aqui " made me broody".
Desta vez eu notei as diferenças em mim.
A minha roupa estava a ficar apertada.
O meu peito estava maior.
As calças de ganga magoavam-me na barriga.
Pensei para mim: "será que estou grávida?"
Não estava a tomar qualquer precaução e se há coisa que nunca ocupou o meu querido cérebro foi saber a data da minha última menstruação.
Quando chegava a noite e eu ficava a ver televisão sentia uma fome inexplicável (pois tinha acabado de jantar há um par de horas) e um calor que me abafava.
Pensei muitas vezes que estando eu a chegar aos 40 de certo estava a ter sintomas precoces de menopausa.
Dia 11 de Abril Baptizamos a Beatriz. Eu tinha vestido uma cinta porque estava com a barriga um pouco mais proeminente.
Reparei também como o meu peito parecia querer saltar do vestido.
Nesse dia tive quase a certeza de que estaria grávida e prometi a mim mesma que no dia seguinte ia comprar testes e confirmar as minhas supeitas.
Perguntei a minha mãe se me achava mais gorda - ela responde a isto sempre com muito cuidado, pois sabe que se trata de um tema muito sensível - disse-me: "não estás gorda Sílvia, mas ja tinha reparado como estas muito bonita, não te fica bem quando ficas muito magrinha".
No dia seguinte passei no Sunsburys e comprei três testes.
Três!
Cheguei casa e meti-me na casa-de-banho. Estava nervosa, confesso.
Tinha medo que fosse mesmo a menopausa.
O primeiro teste deu POSITIVO.
Senti um calor subir por mim acima.
Uma zonzeira. Uma alegria que me invadiu por completo.
Eu estava grávida com o meu segundo bebé!
Corri a contar a minha mãe que ainda cá estava a passar uns dias de férias. Telefonei ao meu marido em histeria. Ele ficou tão contente como eu.
Devo dizer que mais tarde descobri que estava apenas com 1 mês de gravidez, acho que desta vez percebi quase desde o início, porque as transformações começaram muito mais cedo (da Bea, devia estar com dois meses e meio quando descobrimos a gravidez).
Estava (e estou) empregada outra vez.
Desde que cheguei a Inglaterra a minha vida recomeçou.
Mudei de carreira, deixei o Jornalismo (que foi apenas um sonho que tive a sorte de poder realizar) e entrei na área de Publicidade Online. Passou-me uma ligeira preocupação pela cabeça, mas logo se esfumou porque a minha manager é uma pessoa muito diferente, muito humana e uma grande amiga.
As parteiras - Anjos
O acompanhamento da gravidez por aqui é algo diferente, embora em termos de exames acabe por ser praticamente o mesmo.
Enquanto que em Portugal as consultas são com o médico de familia, aqui as consultas são feitas com parteiras, sendo que visitamos o médico de familia uma vez por trimestre.
As parteiras (mid-wives) são como anjos na Terra. Elas fazem o acompanhamento da gravidez no centro de saúde, trabalham no hospital onde vamos ter o parto e são elas quem faz o parto e fazem tambem o acompanhamento pós-parto nos 15 dias que se seguem ao parto, visitando-nos em casa. São pessoas infitamente disponiveis, amáveis, educadas, respeitadoras, sábias, cumplices e tudo de bom que possas imaginar.
As parteiras tiveram sempre palavras amigas e apaziguadoras, tirarm-me todas as dúvidas que ainda tinha nesta segunda gravidez. Sabiam onde estava a minha bebé apenas apalpando a minha barriga.
Menina
Em Inglaterra só se fazem duas ecografias: uma por volta das 12 semanas e uma segunda por volta das 24 semanas.
Na primeira eco não fazem qualquer menção ao sexo do bebé .
Na segunda não se esforçam muito por perceber se é menina ou menino e é a última coisa que dizem - primeiro certificam-se de que esta tudo bem com o bebé.
Eu e a Bea queriamos uma menina (eu senti que tinha uma menina a gerar-se dentro de mim), o pai estava na esperança de que desta vez fosse um menino.
A segunda eco confirmou, tinha-mos outra menina a caminho. Escusado será dizer que a Beatriz saltou de alegria, eu fiquei emocionada e eu pensei para mim: "eu sabia!".
Alice
Na minha primeira gravidez disseram-me que iria ter uma menina logo na primeira ecografia. Soube desde logo que ia ser Beatriz, um nome que sempre adorei.
Quando me disseram acerca desta segunda menina não tinha nenhum nome em mente.
O nome tinha de se escrever igual em Inglês e Português e soar praticamente igual, era esse o nosso pré-requesito.
O primeiro nome que me soou lindamente foi Ema. Eu e a Bea andamos uns tempos a chamar-lhe Ema, mas o meu marido não conseguia gostar do nome o suficiente para o dar a uma filha.
Acabei por fazer uma lista de meia dúzia de nomes que eu gostava e disse ao meu marido para escolher um deles, porque eu gostava de todos.
Numa das suas viagens a Portugal, enquanto almoçava com a minha família ligou-me e depois de falarmos um bocadinho passou-me à minha mãe que me disse "adoro o nome que escolheste para a menina. Alice é um nome mesmo bonito".
Foi assim que decidimos que ia ser Alice. Desde a primeira vez que disse este nome que tive a sensação de que não poderia ter sido outro. Sim, a minha bebé era a Alice!
Serena e saudável
A minha segunda gravidez foi muito saudável. Não tive qualquer precalço, nem mesmo as infecções urinárias que me tinham atormentado da primeira vez. Foi igualmente serena. A minha manager foi sempre muito compreensiva, muito amiga e tirando o stress normal do dia-a-dia no trabalho, tudo correu muito bem.
Quando comecei a chegar ao fim da gravidez comecei a pensar se este parto iria ser desencadeado naturalemente, ou se mais uma vez iria ter de passar pelo horror da indução.
Partilhei as minhas preocupações com as parteiras, que me asseguraram que cada gravidez é única e que nada indicava que iria passar pelo mesmo. A minha preocupação era tanta que cheguei a pedir que me fizessem uma cesariana às 40 semanas, o que desde logo me foi recusado, alertando-me para os perigos de uma cesariana, que não é mais do que uma cirurgia e como tal deve ser evitada ao máximo.
Segui o conselho das parteiras.
Mas cheguei as 40 semanas e nada de sinal de parto. Tenho uma amiga cujo parto estava previsto para a mesma data que o meu, 6 de Dezembro, que teve a menina às 38 semanas.
Eu comecei a ficar triste. Sentia que alguma coisa devia estar errada comigo. Mas porquê? Porque é que o meu organismo não começa o processo do parto naturalmente, por si mesmo?
Eu Funciono
No dia 12 de Dezembro, por volta das 10h da noite comecei a sentir uma moinha na zona dos rins. Senti também umas gotinhas de liquido a sair e fiquei com a sensação de que era liquido amniótico. Pensei para comigo se seria o início do trabalho de parto. Mas nao me iludi muito, receava a desilusão. Fui-me deitar e não disse nada nem ao meu marido, nem a minha mãe - que tinha vindo no dia 4 de Dezembro para ter a certeza que estava connosco dia 6, para ficar com a Bea e também para conhecer a nova neta e estar com ela uns dias.
Eram 3 da manhã, dia 13 de Dezembro acordei. Tinha a mesma moínha nos rins e uma ligeira dor na zona dos ovários, o mesmo sítio onde dói quando está para se iniciar a menstruação.
Não tinha a certeza se seriam contracções, pois não se tinham desencadeado naturalmente na primeira gravidez. Fiquei atenta e as "contracções" estavam com uma distância de 30 minutos.
Estive acordada cerca de duas horas e o intervalo entre as ligeiras contracções manteve-se.
Acordei já eram 5h da manhã. As contracções mantinham-se espaçadas. Decidi dizer ao meu marido e mãe, mas
não disse nada a Bea, sabia que ela andava ansiosa porque a mana nascesse e não queria que fosse para a escola a pensar nisso, ou pior, que recusasse ir para a escola, porque tinha dito que queria ir para o hospital comigo.
O meu marido foi levar a Bea a escola e eu fiquei em casa; quando voltou para casa perguntou-me se ainda tinha tempo para tomar um duche e eu disse que até podia tomar um banho, que não estava com nenhuma dor forte, eram apenas moínhas e contracções espaçadas.
Liguei à minha irmã para lhe contar a grande novidade, que me parecia que tinha iniciado o processo do parto por mim mesma, mas quando estava a falar com ela embargou-se-me a voz com a emoção e quase que desatei a chorar - consegui manter a postura, mais para não a preocupar.
Enquanto o meu marido estava no banho bem descansado eu comecei a ficar mais incomodada. A minha mãe percebeu logo e apressou-o para que saísse do banho que era preciso ir para o hospital bem depressa. Eu como que ainda a duvidar de que realmente tivesse em trabalho de parto, liguei para o hospital, contei como me sentia e disseram-me para passar la, só para verem como estava.
O Parto
Estava um bocadinho stressada, confesso. Nervosa. Disse que queria ser eu a conduzir para o hospital e assim foi (que eu quando ponho uma coisa na cabeça...). A meio do caminho as contracções começaram a ser mais fortes e mais espaçadas. Eu não querendo dar parte fraca não informei os meus passageiros (marido e mãe), mas ainda pensei que ia ter ali a menina, ha!
Cheguei a St.Peter's Hospital, em Chertsey e fui a andar devagarinho até à recepção.
Mandaram-me ao bloco de partos para me verificarem o meu estado. Cheguei ao primeiro andar e não estava ninguem disponível para me observar, mandaram-me ao rés-do-chão novamente. Fui observada. Tinha 4 cm dilatação.
Disseram-me para voltar para casa, ou dar umas voltas no parque de estacionamento. que ainda podia demorar. Quando coloquei os pés no chão senti que não estava em condições de ir a lado nenhum. Quase nem conseguia sair daquela sala. Disseram-me então para ir para o bloco de partos. Cheguei lá com muita dificuldade. Pediram-me que me sentasse e aguardasse, estavam muito ocupadas e não havia camas disponíveis. Eu respondi que não me podia sentar, estava cheia de dores e que se não havia cama para mim que me ia deitar ali no chão, haha. A sra da recepção olhou aflita para mim, foi falar com as parteiras e quando voltou disse-me " arranjamos uma cama para si".
Foi com dificuldade que dei os passos até à cama que era para mim. Não era só uma cama, mas um quarto, só para mim, com sofás e todo o equipamento necessário.
Comigo no quarto estava a minha mãe e o meu marido.
Deitei-me meia zonza, com dores, vestida, não tive ideia de vestir a camisa que tinha trazido comigo e nenhum dos meus acompanhantes teve cabeça para se lembrar desse pormenor - nem a parteira que estava a tomar conta de mim se lembrou disso. Eram 10h da manhã quando entrei realmente em trabalho de parto, as 11h30 da manhã estava deitada na cama onde iria nascer a Alice.
Estive sempre acompanhada pelo meu marido e pela minha mãe. A parteira esteve presente a maior parte do tempo, nao me colocou nenhum CTG. Quando eu tinha a contracção oscultava a Alice e verificava se estava tudo bem. Ao contrário do parto da Bea, aqui tinha total liberdade de movimentos e podia estar na posição que fosse mais confortável para mim - embora eu quando tanta dor não pensasse em me levantar.
Ao fim de 3 horas de dores comecei a rogar pela epidural. A parteira foi chamar o anestesista. Colocou-me o catéter na mão direita. O Anestesista chegou e começou a dizer-me acerca dos riscos que uma epidural pode ter.
Eis que senti a minha filha ser expulsa do meu corpo. Uma força indescritível, sobre a qual eu não tive qualquer controlo.
Gritei que a minha filha estava a nascer. O Anestesista parou o discurso e olhou para a Parteira, um bocadinho baralhado. A parteira espreitou e não teve tempo de fazer mais nada, do que amparar aquela bebé, que estava determinada a nascer naquele momento. Foram três expulsões espontâneas, em três segundos, eu nao tive qualquer controlo neste acontecimento, e tinhamos Alice no Mundo das Maravilhas!
A espera
O trabalho de parto durou três horas. A Alice nasceu a 13.12.11 à 1.11pm. Tive dores intensas (durante o trabalho de parto mordia a minha mão com a ideia de desviar a dor e a minha mãe oferceu-me a mão dela para que mordesse antes ali, haha, que amorosa - eu nao aceitei claro), mas nada que se comparasse às dores que tive com a indução.
Não me cortaram, mas rasguei, tal foi a intensidade com que ela nasceu. Fui cosida com anstesia.
Deram-me uma injeção para ajudar a expulsar a placenta, mas fiquei com a ideia de que do parto da Bea, sem injeção a placenta saiu mais facilmente.
A menina nasceu, colocaram-ma logo no colo ainda ligada pelo cordão umbilical, tal como fizeram com a Bea. O pai cortou o cordão. Levaram-na para a limpar e colocaram as pulseirinhas de identificação nos pézinhos. Voltaram a colocá-la no meu colo, nuinha.
A parteira entrava e saía do quarto.
Entrei em choque, uns minutos depois do parto. O meu corpo tremia sem controlo. Aconteceu-me o mesmo com a Bea. Passou depressa e sem dramas.
Entretanto o meu marido foi buscar a Bea à escola. Eu pedi à parteira para me ajudar a limpar e mudar para a minha camisa antes da minha filha mais velha chegar. Tinha tido a minha filha com o vestido com que tinha chegado. A parteira saía e demorava-se meias horas. Depois vim a saber que estavam com falta de pessoal e que a minha parteira estava a tratar de duas mulheres ao mesmo tempo.
Chegou a minha filha mais velha e eu ainda cheia dos liquidos e sangue na cama. Ela viu tudo com naturalidade e ficou maravilhada com a irmã.
Quando o meu marido voltou com a Bea e a minha mãe, cerca de duas horas após o parto, eu estava prontinha para tomar o duche. Fui sózinha. Não queria ninguém comigo, mas confesso que estava meia zonza. Depois do duche, vesti a minha roupa de rua e fui com o meu marido apanhar ar fresco e buscar algo para comer, porque não tinha almoçado. Soube mesmo bem sair a rua depois de todo aquele alvoroço. Voltei ao quarto e nem sinal da parteira. Já eram cerca de 4h da tarde. Por volta das 7h da tarde o meu marido, filha e mãe foram para casa e eu fiquei no quarto do bloco de partos, tinha de esperar que me dessem ordem para descer para a enfermaria.
A minha parteira acabou o turno e disse-me que em breve me iriam buscar para a enfermaria. Eram 8h da noite. Eu sentia-me esgotada. Queria ir descansar. Estava ali naquele compasso de espera. Não chegava a adormecer porque estava sempre a pensar que chegaria alguém para nos levar para baixo.
Eram cerca da 9h da noite quando uma auxiliar chegou com uma cadeira de rodas, para me levar para a enfermaria. Disse-me que a cama estava livre há algumas horas, mas não tinham ninguém para me ir buscar. Eu disse que não queria ir na cadeira, que queria ir a andar. A auxiliar ficou boqueaberta e quando chegámos a minha cama disse-me que se tinha esquecido fazer uma tour pela enfermaria (dizer onde eram os pequenos almoços, etc) porque estava surpreendida coma minha mobilidade. Fomos alegremente a conversar e descobri que a auxiliar é tia de um menino que anda na escola com a Bea já há alguns anos.
No dia seguinte, por volta das 11h da manha fizeram o check-up final e tivemos alta para ir para casa. Era Quarta-feira e fui buscar a minha filha mais velha à escola. Sentia-me (e sinto) muito feliz. Eu funciono. O processo começou naturalmente e correu tudo bem.
2 comentários:
Adorei o blog!
que barriguinha fofa!!! Sigo ;)
http://dressedcrisis.blogspot.pt/
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