As minhas Princesas

14/01/2012

Gravidez - A primeira



Fui mãe pela segunda vez há cerca de um mês. 
Tive uma experiência maravilhosa e já há umas semanas que ando a pensar em fazer o relato do meu parto, aqui em Londres. 
Mas ao pensar nisso, decidi primeiro relatar o meu primeiro parto, em Portugal, para que possa comparar os dois sistemas.

Não fazia a menor ideia 

A minha primeira gravidez foi há cerca de oito anos e meio, comecou em Outubro de 2012.
Trabalhava na revista Maria, Impala. Vivia em Mem-Martins, Sintra, num apartamento situado no 4o andar esq. 
Em termos de saúde tive uma gravidez boa, com a excepção de um par de infecções urinárias, uma delas bem chatinha. Andava maravilhada com todas as mudanças que o meu corpo passava e com aquele ser que se gerava dentro de mim. Mais maravilhada ainda com as ecografias. Fizemos três no total e desde a primeira que nos disseram que 99% era uma menina. Soube desde o início que se ia chamar Beatriz, o meu nome de sonho, que sempre adorei. A primeira eco fiz  às 10 semanas, a segunda foi perto das 20 semanas e a última por volta das 24 semanas. Acabei por fazer uma extra, como contarei mais a frente. 
Não fazia a mínima ideia de estar grávida Uma colega chamou-me a atenção para que o meu peito estava maior, questionando se estaria grávida, a que respondi prontamente que não. Mas fiquei com a pulga atrás da orelha e uns dias depois o meu cunhado deu-me uns testes de gravidez que fiz pensando que iam dar negativo. Fiz 3 testes e todos davam positivo. Eu não conseguia acreditar, porque não notava nenhuma diferença no meu corpo, mas lá acabei por ir ao médico, que me informou que se os testes eram positivos, eu estaria grávida.
 Marcou-me a primeira eco e eu achava que se ia descobrir nesse dia que eu não estava grávida, pois não sentia ou via sinal nenhum. 

Stress no trabalho

Em termos psicológicos tive uma gravidez cheia de desafios. Trabalhava na revista Maria, como Jornalista e ocupava um bom lugar na redacção. Era das pessoas que saia mais em reportagem e tinha a meu cargo (partilhado com uma outra colega) a cobertura do Big Brother, o que era em si muito prestigioso. 
A minha directora era muito minha amiga, mas quando a informei que estava grávida, fez um sorriso amarelo e perguntou-me se eu sabia que ser mãe ia mudar a minha vida para sempre. Eu disse que sim, mas não fazia a menor ideia do que ela estava a falar - devo dizer que a dita senhora já era mãe de duas crianças
Conforme a gravidez avançava a minha relação com a directora da revista azedava cada vez mais. Atribuía-me reportagens  à noite, até altas horas, longe de Lisboa, tendo de viajar mais de 200km num só dia, entre outras coisas. Quando lhe disse que preferia trabalhos mais perto e a horas diferentes, porque me custava devido a estar grávida, disse-me que a gravidez  não  era doença e uma vez perguntou-me directamente se me estava a recusar a fazer o trabalho.
Tudo isto vinha com uma crescente falta de consideração e respeito. Acabou por me retirar dos trabalhos de rua e atribuiu-me a gestão  das novelas, na redacção, o que era um trabalho muito aborrecido, mas que aceitei sem reservas.
Foram muitas as lágrimas que verti naquela  redacção,  durante a minha gravidez. Andava sempre muito enervada, muito stressada, devido ao modo como a minha directora me tratava. O que me valia era o meu marido, que em casa me dava paz e devolvia a harmonia que tanto me fazia falta. 

Imprevistos

A minha filha estava prevista para dia 9 de Julho. Iniciei a minha licença de maternidade no dia 1. O dia 9 chegou e nada de sinal de parto. Cheguei perto das 42 semanas, dia 17 de Julho tive uma consulta no hospital onde ia ter a minha filha, Hospital Amadora-Sintra, e verificaram que a minha tensão arterial estava demasiado alta. Aconselharam-me a ficar internada nesse mesmo dia e a ser induzida no dia seguinte. Eu estava muito frágil, nunca tinha estado internada num hospital, chorei, mas fiquei.
Nesse mesmo dia fizeram mais uma eco.
Na manha seguinte informaram-me que a eco do dia enterior tinha deixado uma suspeita de um pequeno problema no coração da bebé e que o cardiologista tinha de fazer uma eco promenorizada ao coração da bebé. Fiquei em choque. Estive em pânico durante toda a eco. O cardiologista não dizia uma palavra, estava super concentrado em verificar todos os cantinhos do coração da minha Beatriz.
Acabou a eco e o cardiologista, muito calmo, disse-me que estava tudo bem e que tinha sido falso alarme.
Subi para enfermaria meia aparvalhada e ainda dormente com toda aquela adrenalina.
Lá em cima (na enfermaria) a notícia espalhou-se rápido entre as enfermeiras e todas me davam os parabéns ao passar.
Ao meio dia, no dia 18, comecou a indução.
Passaram um par de horas e nada.
Fui dar umas voltas pelo hospital, porque me disseram que ajudava a iniciar o processo. Ás 3h da tarde senti a primeira contracção.
Rapidamente voltei a enfermaria e deitei-me. Colocaram o CTG na minha barriga, para controlar o batimento cardíaco da bebé e outro aparelho que reportava a intensidade das contrações.
Uma hora depois eu já estava com dores horríveis e de vez enquando dava gritos bem altos, mais para chamar a atenção das enfermeiras, achava estranho estar ali sozinha e nao me dizerem em que fase estava, ou se ainda faltava muito.
O meu marido esteve sempre comigo, massajava-me os rins e isso ajudava muito.
A certa altura, uma enfermeira já de idade e muito simpática perguntou-me se eu queria que ela me rebentasse as águas, que isso acelarava o processo. Eu disse logo que sim. Ela fê-lo. Senti um mar de água morna inundar-me as pernas.

Descida ao bloco de partos

A enfermeira ligou para o bloco de partos, informou-os de que as minhas águas tinham rebentado e mandaram-me descer. O meu marido não pôde entrar.
Colocaram-me numa sala pequena, que mais parecia uma dispensa.
Primeiro ainda lá estava um enfermeiro, mas as dores comecaram a ser insuportáveis e eu gritava como uma louca. Comecei a perder o controlo.
Ele, em ar de gozo, fazia perguntas idiotas, como: "mas porque grita tanto?" e eu acabei por lhe responder mal. Ele deixou-me ali sozinha.
A certa altura tinha uma vontade enorme de urinar. Chamei-os. Não vieram. Tirei o aparelho que monotorizava o batimento cardíaco da bebé, veio logo uma enfermeira a corer e ralhar comigo e eu aproveitei para dizer que queria ir a casa de banho. E depois voltou o tal enfermeiro e uma auxiliar. Queriam-me por a arrastadeira. Barafustei, dizia que não queria fazer na arrastadeira, sempre me deu tanto nojo, queria que me ajudassem a ir a casa-de-banho. Disseram que não. Lá acedi a que me colocassem a arrastadeira, não tinha alternativa. Mas quando precisava de levantar o rabo para a colocarem não o conseguia fazer, porque as contracções eram já muito fortes e o espaço entre elas muito curto. Cada vez que fazia o gesto de começar a elevar o corpo, tinha uma contração maior que tudo e não conseguia mover um dedo que fosse. Eles não me ajudaram. Simplesmente puseram um ar de enfado, como se eu estivesse a fazer de propósito e começaram a ameaçar que me algaliavam. E foi o que fizeram. Tive dores horveis para o fazerem, mas ao menos aliviei-me. Estava eu num mundo de desorientação, com dores que ultrapassavam todos os meus limites quando de repente ouço uma voz doce: “Oh Silvia, então?” Olhei e de repente nem via mais que uma imagem meio desfocada. Quando foquei melhor vi que era uma rapariga que eu conhecia muito bem desde pequena, Cidália. Nao vos sei dizer o alívio que senti ao -la ali, parace que até as dores se amenizaram. Falou-me com ternura e acalmou-me. Eu estava como louca, tinha perdido o controlo completamente - gritara como uma louca há cerca de hora e meia, estava toda suada e esgedelhada. A Cidália falou com as pessoas que estavam responsáveis por mim, e parace que as caras passaram a estar mais simpaticas.
Entretanto tinham dito ao meu marido que podia ir jantar à  vontade, que eu estava muito atrasada e que lá para as tantas da manhã é que deveria nascer.
Passava pouco das 6.30 da tarde quando senti a minha bebé fazer força para nascer. Gritei a bom gritar que me ajudassem pois a minha filha estava a nascer.

Olá Beatriz

Tinham-me deixado sozinha a gritar naquela dispensa. Apareceu uma senhora de cor, muito simpática e cheia de calma. “Então dizes que a tua filha está a nascer? Mostra lá”. Quando espreitou ficou nervosa e disse alto para me levarem logo para o bloco de partos, que aquela bebé estava a nascer. Eu dizia que era preciso ir buscar o meu marido, que ele estava lá fora e queria assistir.
Foi tudo muito rapido. De repente estava no bloco de partos e o meu marido ao meu lado, todo vestido de verde, lol. Pediram-me que fizesse força 3 vezes e a minha Beatriz nasceu.
Foi muito emociante vê-la, finalmente.  A minha menina estava ali, era perfeitinha e Linda. Colocaram-na no meu peito ainda ligada pelo cordão umbilical.
 Nasceu às 6.45pm. Fiz-lhe umas festinhas timidas nas mãozinhas. Colocaram-lhe as pulseirinhas de indentificação (uma na mão e outra no pé) e levaram-na.
Retiraram a placenta, o que  me causou algumas dores e coseram-me, acho que sem anestesia. Em Portugal cortam-nos para que nao rasguem nos sitios errados, e levaram-me duas horas a descansar para o recobro. Dormi um sono pesado e revigorante.

Depois da tempestade…

Quando acordei apareceu logo uma auxiliar muito querida, perguntou se queria que trouxesse a bebé e eu disse que sim.
Lavou-me delicadamente e mudou-me a a camisa de dormir. Tratou-se com muio carinho. Senti-me no Paraíso. A Beatriz nasceu com APGAR 10. Mamou logo que a coloquei na mama e  estava ainda a mamar quando nos levaram para a enfermaria. No caminho tive a surpresa maravilhosa de encontrar o meu marido no corredor, que estava na esperança de ainda nos ver mais uns minutos. Quase não pararam, mas senti-me feliz por o ver ali. Sabia que na manhã seguinte estaria lá para me visitar.
A Beatriz nasceu numa sexta-feira. No Domingo perto da hora do almoço tivemos alta e fomos para casa. Levei os meus jeans (que usava antes de estar grávida) vestidos. Tinha o meu cinto elastico pós-parto que me permitiu entrar na roupa pré-parto num instante.

Voltar ao trabalho

Estava muito feliz. 4 meses depois devia voltar ao trabalho. Coincidia com a renovação do meu contrato (já tinha renovado dois contratos e antes da gravidez tinham-me garantido que iria passar a efectiva) - quando faltava um mês para voltar recebi uma carta a dizer que a Impala não ia rebovar o contrato, nem passer-me a efectiva. Fiquei desempregada. Por um lado senti-me muito feliz, por ia estar mais tempo com a Beatriz e para dizer a verdade andava horrorizada com a ideia de ter de lidar com a minha directora. Mas na verdade foi desastroso. Acabei por ficar dois anos e meio desempregada. Em casa com a minha filha querida. Mas a nossa vida em termos financeiros deteriorou-se. Ninguém me dava emprego. Perguntavam se tinha filhos e quando ouviam dizer que tinha uma menina de meses, riscavam-me da lista de candidatos. Esta situação fez com que tomássemos uma decisão que mudou as nossas vidas radicalmente: emigramos para Inglaterra…



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